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Morte de Dominguinhos deixa o Nordeste órfão de um artista símbolo

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Dominguinhos tinha apenas 16 anos quando Luiz Gonzaga alardeou para o mundo que aquele rapaz era o seu herdeiro musical. Em uma reportagem na extinta revista Radiolândia, o rei do Baião disse palavras premonitórias: “Estou ajudando ele e espero que o público o cansagre. Dominguinho (como Gonzaga chamava o artista) merece vencer como artista”. Quando Gonzagão morreu, Dominguinhos já era um artista consagrado. Agora, com a morte do principal herdeiro gonzagueano, existe um artista símbolo do Nordeste?
Assim como o seu mestre, Dominguinhos tinha como projeto de vida espalhar a música do Sertão. E assim acolheu artistas iniciantes, apoiou forrozeiros de todos os estados e de várias vertentes. O seu legado se pulverizou por centenas de artistas, mas não chegou a materializar nenhum nome indiscutível. Dominguinhos era admirador de Gennaro (que tocou no Trio Nordestino), Targino Gondim, Mestrinho (que acompanha Gilberto Gil e Elba Ramalho), Beto Hortiz, Cezzinha, Papaleo.
“Ninguém substituiu Gonzaga. E, na minha opinião, Dominguinhos também não terá substituto. Gênios não têm substitutos. Têm seguidores”, afirma o pesquisador paraibano José Nobre. “Temos algumas lideranças expressivas do forró, como Targino Gondim e Flávio José, que representam a força da música nordestina”, acrescenta.
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Cezzinha e Dominguinhos em 2010, no lançamento do DVD de Elba Ramalho no Marco Zero
Apadrinhado de Dominguinhos, que conheceu aos 13 anos, Cezzinha foi um dos sanfoneiros que o mestre acolheu e ensinou. “Bastava ele tocar que a gente aprendia. Eu fica ali no palco, do lado dele, observando”, lembra o cantor e sanfoneiro, que não se consideira o herdeiro de Dominguinhos. “Temos que carregar o legado cultural que ele deixou e não deixar a peteca cai. Nunca vou deixar de seguir os mandamentos dele”, diz.
Apontado também como um dos importantes seguidores de Dominguinhos, Beto Ortiz lembra da generosidade do sanfoneiro. “Quando ele tocava e eu pedia explicações sobre o que ele estava fazendo, ele respondia com muita tranquilidade”, diz. “Na mídia, não nenhum acordeonista que possa, hoje, chegar perto dele”, acredita.
Borguetti e Dominguinhos no projeto Asa Branca, que passou por mais de cem cidades brasileiras
Para Luizinho Calixto, de família tradicional nos Oito Baixos, não há sanfoneiro no Brasil que não tenha tido a influência do toque de Dominguinhos. “Eu acho muito dificil falar sobre um sucessor. Todos os sanfoneiros têm que trilhar o caminho de Dominguinhos para tocar bem. Vai demorar muito e talvez nós nunca teremos a oportunidade de ver alguém com um acordeon no peito que faça alguma coisa diferente do que Dominguinhos fazia. Ele explorou a sanfona de forma inacreditável”, diz Luizinho.
Representante da tradição da sanfona gaúcha, Renato Borguetti também aprendeu com o sanfoneiro. “Tem uma passagem que eu me lembro bem, que ele me disse: “Renato, tu ainda é muito novo e toca como eu tocava quando era novo: com muitas notas e muita velocidade. Quando você ficar mais velho, vai perceber que uma nota bem colocada vale por mais de dez”, conta o gaiteiro, que rechaça a ideia de um herdeiro. “Não é nem correto dizer que uma única pessoa vai levar a música dele adiante. Sanfoneiros de todo Brasil e do mundo devem muito a Dominguinhos”.
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