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Ano Internacional da Cooperação pela Água é estratégico para Unesco



Recurso natural é de importância vital para a sobrevivência da humanidade

Foz do rio Taquari, no Mato Grosso do Sul (Foto: Zig Koch)Rio Taquari, no Mato Grosso do Sul, é importante na Bacia do Prata (Foto: Zig Koch/Divulgação)
Há quem diga que uma guerra mundial pode ser causada por uma disputa por fontes de água doce e isso não é tão difícil de se imaginar. Os recursos hídricos do planeta são limitados. A água tem importância econômica e social, mas, acima de tudo, é uma questão vital. Com essa preocupação na agenda, a Organização das Nações Unidas pela Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) elegeu 2013 o Ano Internacional da Cooperação pela Água. Essa aliança visa a promover mudanças no âmbito local, regional, nacional e internacional. Se entre líderes da comunidade internacional o tema é tratado como prioridade estratégica, a Unesco acredita que é tempo de conscientizar a população sobre a necessidade, a importância, os benefícios e os desafios da cooperação. Por isso, os cinco primeiros programas da temporada deste ano do Globo Ecologia serão dedicados ao tema. Falaremos sobre as nascentes, os rios, as lagoas, os estuários e os oceanos.
"A água é a base fundamental, cuja importância não pode ser subestimada. Ela é um denominador comum dos principais desafios globais do nosso tempo: energia, alimentos, saúde, paz e segurança. A gestão da água pode reduzir o risco de desastres, como secas e inundações. Como bacias hidrográficas transfronteiriças e sistemas aquíferos representam quase a metade da superfície da Terra, a cooperação pela água é vital para a paz", declarou Irina Bokova, diretora-geral da Unesco. A organização espera com esta medida desencadear ações concretas com o envolvimento da população e, principalmente, daqueles que trabalham direta ou indiretamente com recursos hídricos, fomentando parcerias, mais diálogo entre países e novas soluções. Além de garantir a distribuição sustentável e equitativa da água, o objetivo é manter relações pacíficas dentro e entre comunidades.
Hoje no mundo, 783 milhões de pessoas não têm acesso à água potável e quase 2,5 bilhões vivem sem saneamento adequado. De toda a energia produzida no planeta, cerca de 8% é usada para puxar águas subeterrâneas e bombeá-las, além do que é usado para tratamento de água. À medida que a disponibilidade de água diminui em muitas regiões, o consumo cresce na agricultura com uma projeção de crescimento de 19% até 2050. O uso de água para irrigação e produção de alimentos constitui uma das maiores pressões sobre os recursos de água doce, já que a agricultura responde por aproximadamente 70% das retiradas mundiais de água doce (até 90% em algumas economias em rápido crescimento). A estimativa é de que a população global tenha um crescimento de dois a três bilhões de pessoas, resultando em um aumento na demanda por alimentos e água de 70% até 2050.
Cataratas do Iguaçu (Foto: Zig Koch)As Cataratas do Iguaçu são parte da Bacia do Prata
(Foto: Zig Koch/Divulgação)
Geopolítica
Na esfera internacional, fala-se da gestão de recursos hídricos que cruzam, delimitam ou ultrapassam fronteiras, como as de rios entre países ou até da água subterrânea transfronteiriça - uma fonte crescente de água doce. Diferente de qualquer outro recurso, a água não reconhece bordas e não precisa de passaporte para ir de um país para outro. Segundo dados da própria ONU, desde 1947 foram feitos mais de 300 acordos internacionais pela água em âmbito político. A população não se dá conta, mas há 276 bacias hidrográficas transfronteiriças do mundo: 64 estão na África, 60 na Ásia, 68 na Europa, 46 na América do Norte e 38 na América do Sul. Só no Brasil, 2 bacias são ligadas a 11 países: a Amazônica e a do Prata.
A Bacia do Prata alimenta Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Um tratado internacional foi assinado em 1969 entre os cinco países, em espírito de cooperação e preservação de recursos para as gerações futuras. Marco Neves, especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, comenta que como o Brasil é o país com águas acima, precisa cuidar da água que vai enviar para os outros países. Já no caso da Bacia Amazônica, que compreende terras do Brasil, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana e Bolívia, nossa situação é inversa. “Nós recebemos água dos países andinos, pois a nascente está nos Andes. E, como receptores, os tratados visam também a harmonização das informações, medições da quantidade  e qualidade da água, etc”, explica Marco.
Rio Xingu, no Pará (Foto: Rui Faquini)Rio Xingu do Mato Grosso até o Pará
(Foto: Rui Faquini/Divulgação)
Desafios no Brasil
Dentro de casa, os desafios pela cooperação pela água também são grandes. Desde 1997, existe uma política das águas, a Lei das Águas nº 9.433. De forma simplificada, trata-se de um sistema de cooperação entre Governo, autarquias, ONGs, setor privado e comitês para tratar e debater questões da água nas bacias hidrográficas. Existem mais de 170 comitês no Brasil, sendo nove deles federais. O maior desafio do país ainda é em relação ao tratamento de água e lançamento de água não-tratada, ou seja, esgotos irregulares, em rios. “Para isso, precisamos tanto de um controle social para identificar o que está irregular, como o próprio Governo precisa construir estações de tratamento de esgoto”, explica.
Além dos problemas da seca no Nordeste, das chuvas no Sudeste, é preciso pensar em energia. A Bacia do Rio São Francisco, por exemplo, abastece sete estados e isso requer cooperação. A Bacia do Paraíba do Sul cobre três estados. “A cooperação pode ser dada desde o indíviduo que aprende a lidar com a água reavaliando seus hábaidos de consumo domésticos até a cooperação entre países. O ano fomenta e quer trazer luz sobre todos os tipos de cooperação”, diz Marco.
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