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Mais de 12 mil queixas de violação de crianças foram registradas em 2013

DiarioDePernambuco
Abuso sexual »

  Os registros do primeiro quadrimestre representam 35% de todas as denúncias de violência sexual praticadas contra crianças e adolescentes

Correio Braziliense
Publicação: 16/05/2013 11:50 Atualização:
Dinheiro vivo e presentes, como tênis de marca, eram o pagamento que Marcelo* recebia pelos serviços sexuais que prestava, com outros garotos, em boates do Entorno do Distrito Federal. Hoje, atendido por um projeto de atenção a vítimas de abuso e exploração sexual infantil, o rapaz, que completou 18 anos, tenta se recuperar dos traumas da exploração, ajudando outros jovens e crianças. Ele se engajou, neste ano, na campanha Faça Bonito, Proteja Nossas Crianças, lançada ontem pelo governo federal. Os números mais recentes registrados pelo Disque 100 — o telefone gratuito de denúncias mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República — mostram que há milhares de marcelos Brasil afora. Só de janeiro a abril deste ano, foram feitos 12,8 mil registros de abuso e de exploração sexual de meninos e meninas no país, uma média de 108 violações denunciadas formalmente todos os dias.

Os registros do primeiro quadrimestre representam 35% de todas as denúncias de violência sexual praticadas contra crianças e adolescentes recebidas pelo Disque 100 no ano passado (veja o quadro). A campanha lançada ontem, em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Criança e Adolescente, comemorado em 18 de maio, pretende mobilizar a sociedade em torno do tema, incentivando as denúncias. Apesar de alarmantes, os dados do Disque 100 ainda estão longe de representar a realidade. Muitos casos não são informados: as vítimas sentem medo — e vergonha — de denunciar, sobretudo porque, na maioria das vezes, o agressor faz parte do círculo familiar.

Coordenadora da Girarte, organização sem fins lucrativos que atende cerca de 300 meninos e meninas que vivem nas ruas no Distrito Federal, Eliena de Barros fala das dificuldades para ajudar as vítimas. “As violências sexuais são veladas. No caso das crianças e dos adolescentes de rua, nunca há denúncia. Às vezes, depois de muito tempo de atendimento a uma criança, quando se cria um laço de confiança, ela revela que sofreu abusos”, revela Eliena. Para a coordenadora da entidade, além da punição do agressor, é preciso tratá-lo. “A maioria das pessoas que cometem violência sexual já esteve do outro lado, foi vítima na infância. Além de ser preso, é preciso oferecer tratamento psicológico, com acompanhamento, senão, ao ser solta, a pessoa volta a cometer os mesmos crimes”, ressalta Eliena.

Ação integrada
Foi lançado ontem, também, o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, que passou por uma revisão. Um dos principais objetivos, segundo Bruno Monteiro, chefe de gabinete da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), é agilizar a apuração das denúncias e a tomada de medidas de proteção às vítimas, interligando as redes de proteção à criança e ao adolescente — como conselhos tutelares, promotorias da infância e hospitais especializados. Desde o ano passado, ressaltou, as denúncias recebidas pelo Disque 100 vão direto para ministérios públicos estaduais e conselhos tutelares. A identificação do agressor é o passo mais difícil porque, entre o recebimento da denúncia e a entrada em ação de um conselheiro tutelar, a situação de violência pode já ter cessado. Dar agilidade à apuração, portanto, é fundamental.Na avaliação de Karina Figueiredo, coordenadora do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), há o que comemorar. “Temos conseguido avançar, sobretudo com a mudança da legislação, que aumentou a pena para crimes sexuais. A impunidade é um dos grandes problemas para enfrentar a questão, assim como a garantia do atendimento para crianças e adolescentes que sofreram violência.” A reestruturação dos conselhos, segundo Karina, é fundamental para melhores resultados. “Os conselheiros tutelares estão lá na comunidade para proteger as crianças e os adolescentes”, diz Karina.
*nome fictício

Abusos em alta
Número de denúncias de violência sexual a crianças e adolescentes aumenta ano a ano. Os dados são do telefone de denúncias Disque 100

Violência sexual
2011    35.653
2012    37.803
2013    12.856 (até abril)

Todas as violações
(janeiro a abril)
2011    19.964
2012    34.145
2013    46.111

Ranking das denúncias (2013)
Posição    UF    Quantidade    Denúncias por 1 milhão
                                             de crianças e adolescentes
1º    DF    1.283    1.734
2º    RJ    5.998    1.442
3º    MS    1.011    1.348

* O ranking abrange todos os tipos de violação a direitos das crianças e adolescentes.
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