Isabelle Barros
Ao fim do show, o cantor voltou ao palco para mais três músicas no último sábado. Foto: João Araújo/Divulgação |
A apresentação começou às 20h40, dez minutos após o horário marcado, com a música Rua da Passagem, de Lenine e Arnaldo Antunes. Na voz de Ney, os versos "todo mundo tem direito à vida / e todo mundo tem direito igual" pareciam ganhar verdade e força redobrada, a partir de sua própria história de vida. O público ainda tentava decodificar que tipo de músicas o artista estava apresentando quando, ainda no início da apresentação, Ney quebra o gelo durante a sua primeira troca de figurino ao falar "agora vou tirar uma roupinha ali e já volto". A partir daí, o público começa a participar de forma mais aparente, elogiando o cantor com adjetivos como "lindo", "delícia" e "maravilhoso".
Um dos momentos mais marcantes do espetáculo foi a música Isso Não Vai Ficar Assim, de Itamar Assumpção. Encostado na escada que delimita o espaço entre o palco e a plateia, Ney, sedutor, cantava o verso "beije-me", e o público o atendeu: homens e mulheres tocavam nele, beijavam seu corpo e acariciavam seu rosto. Um fã tentou até beijá-lo na boca.
Apesar de ter dito em entrevistas a respeito da nova turnê que ela teria uma pegada mais rock, esse conceito não apareceu de maneira óbvia. O que ficou do rock em Atento aos Sinais foi a energia geral da apresentação, com músicas mais dançantes e "pra cima", e a atenção com a sonoridade da guitarra, tocada por Maurício Negão. Seus riffs fizeram a diferença e estabeleceram um clima de sedução em várias músicas, como em Roendo as Unhas, originalmente um samba de Paulinho da Viola.
O figurino, a cenografia e a iluminação - assinada pelo próprio Ney Matogrosso - ajudaram a compor o clima de um show enérgico, mas sofisticado. As roupas de Ocimar Versolato privilegiaram as plumas, botas de cano alto, paetês e calças justíssimas, variando entre o preto e o branco ou prateado. A iluminação e a cenografia, por sua vez, andaram juntas, a partir de luzes que se relacionavam ao clima de cada música, como em Two Naira Fifty Kobo, faixa relativamente obscura de Caetano Veloso. A iluminação, verde e de tons terrosos, e as projeções, feitas a partir de quatro telas de LED, aludiram ao continente.
Após o fim do show, o público pediu e o artista voltou para um primeiro bis, com sua versão repaginada para Amor, da sua primeira banda, Secos & Molhados, e Astronauta Lírico, de Vitor Ramil. Nessa última canção, bolhas de sabão caíram sobre o público, um recurso simples e eficiente para emocionar, fechando o show em um belo momento.
A plateia pediu novamente, então Ney voltou ao palco para um segundo bis, desta vez cantando a música Poema, composta por Cazuza, com quem teve uma relação de amor e parceria artística. Embora houvesse gente que pedisse um terceiro bis, dessa vez os apelos foram em vão. As luzes se acenderam e o Teatro Guararapes viu ir embora uma plateia maravilhada com a coragem e o vigor físico de um cantor que está, há 40 anos, entre os mais instigantes da música brasileira.
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