O trem que descarrilou em Santiago de Compostela causando a morte de 79 pessoas estava a 153 km/h no momento da tragédia
AFP - Agence France-Presse
O trem que
descarrilou em Santiago de Compostela causando a morte de 79 pessoas
estava a 153 km/h no momento da tragédia em um trecho limitado à metade,
revelaram nesta terça-feira as caixas pretas indicando que o maquinista
falava ao telefone com um colega no momento do acidente.
No dia
24, a composição, com mais de 200 pessoas a bordo, descarrilou a 4 km de
sua chegada à estação de Santiago, em um trecho em que a linha, de alta
velocidade, passava a uma via convencional, com uma velocidade limitada
a 80 km/h ao aproximar-se da cidade.
"No momento em que saiu dos
trilhos, o trem circulava a 153 km/h", em uma zona em que o limite é de
80 km/h, informou o Tribunal Superior de Justiça da Galícia, depois de
analisar as caixas pretas.
Segundo os dados extraídos das caixas
pretas, o maquinista Francisco José Garzón Amo, um experiente
profissional de 52 anos, foi indiciado por homicídio por imprudência
porque falava ao telefone no momento do acidente. Ele parecia consultar o
trajeto do trem.
Os dados extraídos das caixas pretas confirmaram a distração do maquinista.
"Pelo
áudio armazenado nas caixas pretas foi possível saber que o maquinista
estava falando ao telefone com o pessoal da Renfe (companhia ferroviária
espanhola, nr), aparentemente com um controlador, no momento do
acidente", explicou o tribunal.
Minutos antes do acidente, o
maquinista "recebeu uma ligação em seu telefone profissional para
indicar o caminho que tinha que seguir ao chegar a Ferrol", seu destino
final. "Pelo conteúdo da conversa e pelo barulho de fundo, parece que o
maquinista consulta um mapa ou algum documento semelhante em papel",
acrescentou a fonte.
A hipótese de excesso de velocidade estava
sendo privilegiada pelos investigadores desse acidente que comoveu o
país, principalmente a região da Galícia, no noroeste, onde as festas do
apóstolo Santiago foram canceladas devido à tragédia.
Inúmeros
jornais espanhóis afirmaram que o maquinista - que aparentemente
conhecia bem o trajeto - teria declarado ao juiz que havia confundido o
trecho em que se encontrava.
"Acreditava estar em um trecho
diferente do traçado e, quando começou a reduzir a velocidade, era tarde
demais para manter o controle da composição", indicou o jornal El País.
O
acidente aconteceu numa linha de alta velocidade também utilizada por
trens convencionais, mas que não está equipada com um sistema de freagem
automática em caso de excesso de velocidade.
Onde aconteceu a
tragédia, o trem deixa uma longa reta de mais de 80 km a uma velocidade
máxima de 220 km/h para entrar nesta curva perigosa, com velocidade
limitada a 80 km/h.
Segundo uma liderança sindical, o próprio
Garzón havia alertado seus superiores a respeito de problemas de
segurança nesse trecho.
Garzón "havia afirmado que é incrível que
não se controle a velocidade nesse lugar, em que não se pode passar de
200 km/h para 80 km/h diretamente, sem uma supervisão por meio de um
sistema de segurança", declarou à AFP Rafael Rico, porta-voz do
sindicato de maquinistas Semaf, da Galícia.
"Os maquinistas
sabem, e ele mesmo havia dito ao seu superior, que não era possível
aceitar algo assim. Ele disse isso no dia seguinte ao acidente, quando
estava no hospital. Disse que era um lugar em que todo mundo sabia que
era difícil circular", acrescentou Rico.
Segundo a porta-voz
da Adif, na zona do acidente, devido à mudança de velocidade máxima
autorizada, o sistema de segurança passa do europeu ERTMS (European Rail
Traffic Management System) para o espanhol ASFA (Anúncio de Sinais e
Frenagem Automática), adaptado a velocidades de até 200 km/h, mas que
não freia automaticamente o trem quando este supera o limite de
velocidade.
Por causa do acidente, a segurança das ferrovias
espanholas está sendo avaliada pela companhia pública Adif, que gerencia
a rede.
"Depois do acidente, o protocolo adotado é comprovar se tudo está funcionando corretamente", explicou uma porta-voz.
Além dos 79 mortos, 66 pessoas continuam internadas, 15 delas em estado crítico, incluindo um menor de idade.
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