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Livro e curta-metragem relembram Zé Dantas

Compositor dos sucessos de Gonzagão Antropóloga Mundicarmo Ferretti reedita publicação, e cineasta Juliana Lima lança documentário sobre compositor pernambucano

 Diario de Pernambuco



Zedantas e Luiz Gonzaga. Crédito: reprodução da internet/onordeste.com
Zedantas e Luiz Gonzaga. Crédito: reprodução da internet/onordeste.com
A caixa de fósforo sempre foi a grande aliada do pernambucano José de Souza Dantas Filho (1921-1962), também chamado de Zé Dantas ou Zedantas, como preferia assinar. Nascido em Carnaíba de Flores, no Sertão do Pajeú, ele não sabia tocar instrumentos, tampouco cantar, mas desde menino se revelava compositor. Batucando na caixinha de palitos, criava com facilidade xotes, baiões e toadas, entre eles os sucessos Cintura fina, A volta da asa branca e Riacho do navio. Veio para o Recife estudar medicina conforme desejavam os pais, mas nunca abandonou a vocação artística.

Aquele que viria a ser um dos principais parceiros musicais do Mestre Lua é  tema do livro Na batida do baião, no balanço do forró: Zedantas e Luiz Gonzaga (Editora Massangana, 230 páginas, R$ 35 reais), da antropóloga Mundicarmo Ferretti. A publicação lançada nesta quinta-feira (16), às 18h, no Museu do Homem do Nordeste, é fruto da dissertação de mestrado da pesquisadora, que na década de 1970 fez o primeiro estudo acadêmico sobre a parceria entre os dois pernambucanos.

“Conheci o trabalho de Zedantas e de Luiz Gonzaga ainda na infância, no Piauí, e, posteriormente, vi que a música dos dois permanecia muito viva. Além disso, passou a atrair a atenção de um público classe média e universitário, da mesma maneira que em outros tempos interessou a imigrantes nordestinos”, conta. Em Pernambuco, Ferretti entrevistou amigos e familiares do compositor; e no Rio de Janeiro colheu depoimentos de pessoas ligadas a gravadoras, lojas de discos, casas de forró.

Segundo a pesquisadora, Zedantas conheceu o Rei do Baião em 1947, antes mesmo de terminar o curso de medicina na UFPE, em 1949, e de partir para o Rio de Janeiro no ano seguinte. Embora fosse “doutor”, era notado sobretudo pelo humor e talento com os quais contava histórias e criava versos. De 1950 a 1958, Luiz Gonzaga gravou 50 composições do conterrâneo, que as escrevia com a intenção de divulgar os costumes e as artes populares tipicamente nordestinas.

Com olhar voltado para as próprias raízes, Zedantas compunha canções sobre festividades sertanejas, práticas medicinais e agrícolas, poesia, artesanato. Chegou a ser diretor do programa O Rei do Baião, da Rádio Nacional, e do Departamento Folclórico da Rádio Mayrink Veiga. Quando morreu, aos 41 anos, um busto foi levantado na cidade natal, em sua memória.

Mas foi do cantor vindo de Exú que recebeu o maior tributo, a música Homenagem a Zedantas, que empunhava versos como: “Chora meu olho d' água,/ chora meu pé de algodão./ As folhas já estão se orvalhando,/ saudade do nosso irmão,/ Zedantas”. Além de Luiz Gonzaga, as composições do pernambucano foram gravadas por artistas como Carmélia Alves (O calango), Quinteto Violado (Chegada de inverno), Ivon Curi, (Dei no pai e trouxe a filha), e Jackson do Pandeiro (Forró em Caruaru).

No evento desta quinta-feira (16), estarão presentes a viúva do compositor, Iolanda Dantas, e os sobrinhos do Rei do Baião, Joquinha e Sérgio Gonzaga. Antes do lançamento do livro, o auditório do Museu do Homem do Nordeste recebe vários artistas para a transmissão ao vivo de edição especial do programa Forró, Verso e Viola (rádio Universitária FM). Entre as atrações que se se apresentam a partir das 16h, Petrúcio Amorim, Maciel Melo, Novinho da Paraíba, Josildo Sá e Silvério Pessoa.

Curta lança olhar sobre compositor
Zedantas. Crédito: reprodução da internet/onordeste.com
Zedantas. Crédito: reprodução da internet/onordeste.com
A vida e a obra de Zedantas também são o enfoque de Psiu!, documentário de 22 minutos ainda inédito, produzido e co-dirigido por Juliana Lima, com direção de Antônio Carrilho. O curta-metragem foi aprovado em edital do Ministério da Cultura, em 2010, e finalizado em dezembro do ano passado. Os produtores aguardam festivais de cinema para exibir o vídeo.

“Partimos de conversa com dona Iolanda para colher depoimentos de outros familiares e amigos. Falamos com o filho de Zedantas, o cunhado, colegas de profissão no Rio de Janeiro, sertanejos que trabalharam na fazenda dos pais do compositor, além de artistas como Geraldo Azevedo e Fagner, que até hoje cantam as músicas dele”, ressalta a co-diretora.

No documentário, Zedantas é descrito como uma pessoa carismática, alegre e talentosa. “Estamos ‘guardando’ o curta para o Festival de Brasília (do Cinema Brasileiro, em setembro), que exige ineditismo. Depois disso, vamos lançar aqui no Recife e na cidade natal dele, Carnaíba. Queremos entregar o filme ao público, para que as pessoas saiam do cinema sabendo quem é Zedantas”, completa Juliana Lima.

Psiu! traz também imagens inéditas e gravações com a voz do compositor, que na década de 1930 registrou em áudio entrevistas com artistas sertanejos. A direção de fotografia é assinada por Léo Sete, Pedro Urano e Zé Cauê.

credito: Editora Massangana/divulgação
credito: Editora Massangana/divulgação
SERVIÇO
Lançamento do livro Na batida do baião, no balanço do forró: Zedantas e Luiz Gonzaga (Editora Massangana, 230 páginas, R$ 35 reais), de Mundicarmo Ferretti
Quando: hoje, às 16h - atrações musicais, e às 18h - sessão de autógrafos.
Onde: auditório Benício Dias, no Museu do Homem do Norteste (Avenida 17 de agosto, 2187, Casa Forte)
Entrada gratuita. Professores têm desconto de 50% no valor do livro.

TRÊS PERGUNTAS >>>>>>>> Mundicarmo Ferretti

Qual a origem da pesquisa?

É fruto da dissertação de mestrado que começou a ser feita no final da década de 1970 e que defendi em 1983. Conheci o trabalho de Zedantas e de Luiz Gonzaga ainda na infância, no Piauí, e, posteriormente, vi que a música dos dois ainda permanecia muito viva. Além disso, ela passou a atrair a atenção de um público classe média e universitário, da mesma maneira que outrora interessou imigrantes nordestinos.

Como foi recebido na época, e qual a repercussão do trabalho até hoje?Foi muito bem recebido. Além de ser a primeira dissertação a ser defendida na universidade, coincidiu com o São João. Despertou o interesse de muita gente, também pelo fato de ter participado da banca conhecidos antropólogos, como era o caso de Carlos Rodrigues Brandão. A repercussão maior foi em Sergipe, para onde fui chamada em algumas ocasiões para dar palestras, e em Pernambuco, estado de origem de Zedantas e Luiz Gonzaga.

Qual a importância de reeditar o livro?
Isso mostra que há uma manutenção do gosto pela música nordestina. Ela tem picos de sucesso para uma audiência maior, e depois cai um pouco. Mas como Luiz Gonzaga dizia, há um público fiel e isso permite que ela ocupe os mais variados espaços. Para mim é uma grande alegria relançar o livro, e levar a ainda mais pessoas a obra de Zedantas e Gonzaga.

TRECHO DO LIVRO

Por causa do seu gosto pelo folclore e de suas atividades artísticas, Zé Dantas teve certa vez sua mesada cortada pelo seu pai. Naquela ocasião fazia um programa na "Rádio Jornal do Commercio" do Recife, onde se apresentava de "smoking";, para melhor marcar sua classe social, como nos informou a viúva , Dona Iolanda. Mas, apesar daquele artifício, a atividade continuava sendo considerada pouco "digna" pelo seu pai, que não poupava esforços para interromper sua carreira artística.

Muitas das composições de Zé Dantas já eram conhecidas no Recife quando Luiz Gonzaga, associando-se a Humberto Teixeira, lançou a música nordestina para todo Brasil, através dos discos 78 rpm da RCA e dos programas musicais da Rádio Nacional. Zé Dantas, tornando-se seu admirador e não tendo possibilidade de gravar sua música no Recife, antes de o conhecer pessoalmente, fez chegar a ele alguns de seus trabalhos, já divulgados em âmbito restrito, naquela cidade. Segundo comentários de seus amigos da fase estudantil, ouvidos na infância por sua filha mais velha, (que tinha apenas seis anos na época do falecimento do pai), naquela oportunidade Zé Dantas fez chegar ao já conhecido artista nordestino, duas de suas adaptações do folclore: "Asa Branca"; e "Juazeiro", por ele registrada com Humberto Teixeira e gravadas em 1947 e 1949, respectivamente.

Conforme depoimentos de seus familiares e amigos, e do próprio Luiz Gonzaga ("O Sanfoneiro do Riacho da Brígida (vida e andanças de Luiz Gonzaga - Rei do Baião", Sinval Sá, 1966) Zé Dantas, ao encaminhar a ele suas primeiras músicas, queria apenas vê-las gravadas, autorizando inclusive a registrá-las como suas, pois temia a reação de seu pai ao ver o nome do filho num disco. Mas, como adiantou o Sr. Esmeraldo (amigo de Zé Dantas na época em que ele era estudante de Medicina), aquela autorização não dava direito a Humberto Teixeira aparecer ao lado de Luiz Gonzaga como parceiro. Essa intromissão, apesar de justificada por aquele intérprete alegando motivos comerciais, nunca foi aceita pelo grupo de Zé Dantas, provocando ressentimentos ainda hoje muito vivos, e impedindo o encaminhamento a ele da obra inédita de Zé Dantas.

SAIBA MAIS

Composições mais famosas de Zedantas, gravadas por Luiz Gonzaga


1949 // Vem morena e Forró do Mané Vito;
1950 / A dança da moda, Cintura fina, A volta da asa branca, Derramaro o gai, Adeus ao Rio de Janeiro, Rei Bantu, O torrado;
1951// O machucado, Mariá, Sabiá;
1952 // Imbalança, Acauã, São João na Roça, Tudo é baião;
1953 // O xote das meninas, 13 de dezembro, Vozes da seca, O casamento de Rosa, A letra I, Algodão, Vozes da seca, Meu papagaio, ABC do sertão;
1954 // Feira do gado, Olha a pisada, Vô casá já, Noites brasileiras, Lascando o cano, O baião do Verimundo, Pronde tu vai Luí?, Cartão de Natal, Minha fulô, Januário vai tocá
1955 // Cabra da peste, Ai amor, Farinhada, Riacho do Navio;
1956 ;; Na beira do mar, Praia dengosa, Cangote cheiroso;
1957 // O passo da rancheira, São João antigo, O circo, Raque, O delegado do côco
1958 // Mariquinha, O xen-nhen-nhen
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