Vírus da gripe das aves H7N9 pode se disseminar entre mamíferos
AFP - Agence France-Presse
A cepa H7N9 da gripe das aves pode se disseminar entre furões e poderia fazer o mesmo entre humanos em certas condições, revelam estudos com animais de laboratório sobre o vírus, publicados esta quinta-feira.
Até agora não se conhecem casos de disseminação entre pessoas do novo vírus, que infectou 131 pessoas e matou 36 desde que apareceu na China, em março passado.
Se o vírus conseguir se espalhar facilmente entre humanos, especialistas temem que possa provocar uma pandemia generalizada. Estudos com animais são o primeiro passo para compreender quão facilmente o patógeno pode se espalhar entre as pessoas.
"O vírus da influenza H7N9 é infeccioso e transmissível entre mamíferos", destacou o estudo publicado na revista científica americana Science, conduzida por cientistas da Universidade Shantou, da Universidade de Hong Kong, em conjunto com colegas dos Estados Unidos e do Canadá.
"Em condições adequadas, a transmissão homem a homem do vírus H7N9 pode ser possível", acrescentou o estudo.
Os cientistas infectaram furões em laboratório com uma amostra de H7N9 retirada de uma das pessoas que morreram em consequência dele, e descobriram que o vírus se espalhou entre furões por contato direto, destacou o estudo.
O vírus também revelou ser transmissível pelo ar, embora apenas um dos três furões testados tenha ficado doente desta forma.
O estudo também fez testes com porcos, que são considerados mais próximos aos humanos do que os furões e revelou que os porcos poderiam se tornar infectados, mas que eles não transmitiam o vírus entre si.
"Embora o estudo tenha demonstrado que um porco infectou outro porco facilmente, então ficaria mais preocupado", disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.
Fauci, que não participou do estudo, disse que as descobertas deveriam ser interpretadas com cuidado.
"Em circunstâncias muito experimentais, um mamífero pode infectar outro por contato direto", declarou à AFP.
"Dizer que corremos agora um risco maior de uma pandemia provavelmente é um exagero", acrescentou. "Obviamente é algo sobre o que precisamos nos manter vigilantes para garantir que entendamos o vírus melhor", emendou.
Os furões que foram infectados não demonstraram sintomas da doença imediatamente, mesmo o vírus estando presente em suas secreções nasais, o que os autores do estudo viram ser típico na pandemia e na gripe sazonal.
Depois de autópsia realizada nos animais infectados, o vírus demonstrou se replicar tanto no trato respiratório superior quanto no inferior, e o RNA viral foi detectado na traqueia, os pulmões, nos nódulos linfáticos e nos cérebros dos furões.
"Parece-me significativa uma quantidade tal de vírus chegando ao cérebro", disse Suresh Mittal, especialista em gripe aviária e professor de patologia comparativa da Universidade Purdue.
Mittal, que não participou do estudo, disse não ser comum para alguns vírus altamente patogênicos alcançarem o cérebro, mas isto não é comumente visto em pandemias de gripe humana e é necessário fazer mais pesquisas.
"Os médicos serão mais cautelosos ao acompanhar pacientes e ver se eles desenvolvem sinais de encefalite ou não", afirmou à AFP.
Alguns sintomas precisam incluir confusão, tontura, fortes dores de cabeça e no pescoço, disse.
De modo geral, Mittal afirmou que o estudo parece ter sido bem feito e forneceu indícios importantes sobre a transmissibilidade do vírus.
"O vírus parece perigoso porque não infecta humanos e mesmo em porcos o vírus sai das secreções nasais", afirmou.
Ele disse que as granjas e fazendas de criações de porcos são comumente separadas na América do Norte, reduzindo a probabilidade de que um vírus aviário possa saltar para um hospedeiro suíno e, eventualmente, infectar humanos.
"Mas na China, elas podem não ser separadas, portanto as chances de que porcos venham a se contaminar com um vírus aviário são muito maiores", disse.
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