Dilma, Lula, Aécio, Marina e outras autoridades estiveram presentes no velório. Público supera enterro do avô Miguel Arraes
RECIFE — Os restos mortais de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República, foram sepultados no início da noite deste domingo no Cemitério de Santo Amaro, em Recife. A cerimônia foi realizada sob aplausos da multidão, palavras de ordem dos presentes e uma queima de fogos que durou 19 minutos. A víuva Renata e os filhos, que acompanharam o caixão desde a chegada na Base Aérea do Recife, na madrugada deste domingo, estavam ao lado do jazigo na hora do adeus. Antônio Campos, irmão, Magdalena Arraes, avó, e Ana Arraes, mãe, também estavam presentes, assim como Marina Silva, que deve ser escolhida para substituir o político socialista na chapa do PSB ao Planalto.
Foram os filhos de Campos que capitanearam muitas das manifestações em homenagem ao pai. O mais velho deles, João, puxava gritos de guerra como "Eduardo, guerreiro do povo brasileiro". Eles usavam um chapéu de palha, marca registrada do governo do bisavô, Miguel Arraes. Uma multidão acompanhou a cerimônia dentro e fora do cemitério, que foi obrigado a cerrar as portas para evitar a superlotação.
Segundo a Polícia Militar, cerca de 160 mil pessoas ocuparam durante todo dia a região central de Recife para se despedir do ex-governador de Pernambuco. O público foi maior do que o que compareceu ao enterro de Miguel Arraes, há 9 anos. Mais cedo, uma fila com cerca de 3km, que bloqueava mais de cinco quarteirões, foi organizada para os que quiserem se aproximarem do caixão.
Por volta das 18h, o corpo do ex-governador deixou o Palácio do Campo das Princesas até o cemitério de Santo Amaro, a pouco mais de 2 Km de distância. O corpo do fotógrafo Alexandre deixou o palácio no início da tarde, por volta das 13h20m. Severo foi cremado em Recife e suas cinzas serão lançadas no sertão pernambucano.
Ainda pela manhã, a presidente Dilma Rousseff chegou ao palácio sob vaias e aplausos. Emocionada, ela estava acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparentava estar mais abalado do que ela, e pelo ministro Aloyzio Mercadante.
VAIAS A DILMA REPERCUTEM
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), rival político de Campos, considerou justificadas as vaias a Dilma. Ele criticou a presença da presidente no velório.
- Foi falso porque (Dilma) não gostava mais de Eduardo. Se eu fosse ela, mandaria uma coroa de flores. Lula não, Lula gostava de Eduardo.
Já o senador Aloysio Nunes Ferreira, vice na chapa presidencial do tucano Aécio Neves, minimizou as vaias à presidente Dilma Rousseff.
- Vaiar em velório é ruim. Pelo que ouvi foi coisa de uma minoria de militantes mais aguerrida. Não vejo maiores consequências políticas
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Aloysio disse ainda que a campanha presidencial do PSDB deve ser retomada nesta semana
A presidente e outras autoridades, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador José Serra, participaram da missa campal realizada pelo Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, e outros 10 bispos. Lula estava do lado de Renata Campos. Os dois conversaram e se abraçaram várias vezes. Dilma estava do outro lado do caixão, ao lado do ex-governado José Serra.
Quando passou pelo deputado Miro Teixeira, a presidente abraçou-o e falou em seu ouvido.
- Não me olha com essa cara. Mesmo assim, estou feliz de te ver- disse Dilma.
Desde ontem, 63 aviões pousaram em Recife trazendo pessoas que vieram acompanhar o velório e o enterro de Eduardo Campos. No palácio do governo, havia tanta gente, que as autoridades tinham dificuldades em se deslocar. Algumas procuraram salas para acompanhar a cerimônia pela TV.
MARINA ABERTA AO DIÁLOGO
Antes da missa, Marina Silva entrou em uma sala reservada onde os bispos estavam se preparando para a missa. Ficou conversando alguns minutos e recebeu mensagens de força dos prelados. O gesto de Marina foi interpretado por alguns como uma primeira sinalização de abertura ao diálogo, já que a ex-senadora é evangélica.
Parte do PSB teme que, com a substituição de Eduardo por Marina, a candidatura se torne menos aberta ao diálogo com alguns setores.
- Tá vendo? Depois dizem que ela é fundamentalista - comentou um aliado de Marina.
- Tá vendo? Depois dizem que ela é fundamentalista - comentou um aliado de Marina.
RENATA VAI SE ENGAJAR NA CAMPANHA
Mais cedo, o coordenador do programa de governo da candidatura de Eduardo Campos, Maurício Rands, afirmou que a viúva de campos, Renata, vai se engajar na campanha. Ele tratou como fato consumado Marina Silva na cabeça da chapa e repetiu que, se desejar, Renata poderá ser vice - declaração que já havia sido dada pela cúpula do partido.
- Renata não era apenas primeira dama. É militante, gestora e teria todas as qualidades (para ser vice). Ela sempre preferiu participar no papel de retaguarda, de gestora, mas claro que o Brasil inteiro gostaria que ela fosse (vice). Ela já disse que vai se engajar nas campanhas de Marina e Paulo Câmara.
LUIZA ERUNDINA ESTÁ À DISPOSIÇÃO PARA SER VICE
A deputada federal Luiza Erundina (PSB-RS) disse estar à disposição para ser vice na chapa que será liderada por Marina Silva após a morte de Eduardo Campos.
- Pela experiência, pelo tempo de vida na política, sobra responsabilidade. Vou me colocar à disposição para aquilo que o partido precisar de mim, não disputo nada, não quero nada, mas vou me colocar absolutamente à disposição. O que está em jogo aqui não é o PSB, é o país. E o país hoje tem expectativa maior do que tinha em relação a nós.
Erundina relatou que além de seu nome e de Renata, estão sendo cogitados os dos deputados Beto Albuquerque (RS) e Júlio Delgado (MG).
Marina Silva passou a madrugada ao lado de Renata. Nas primeiras horas da manhã de domingo, a viúva recolheu-se ao primeiro andar do Palácio do Campo das Princesas com os cinco filhos, inclusive Miguel, de sete meses, que ia ser amamentado. Logo cedo, a militância do PSB tomou as esquinas próximas ao local do velório para distribuir materiais da propaganda eleitoral de Eduardo e Marina.
Amontoadas, bandeiras eram distribuídas aos populares que se dirigiam ao velório. Depois de esperar a chegada dos restos mortais e sem ter dormido para participar da cerimônia, a faxineira Maria Cristina Moura estava, às 6h , parou em frente ao Palácio da Justiça, pegou uma bandeira, e atravessou a Praça da República de braços para o alto, agitando os panos brancos das bandeiras.
— Eduardo não morreu. Vivo ele está. Ele é gente boa e aqui ele vai ficar! —gritava.
O Globo
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